sexta-feira, 24 de junho de 2011

Contra o medo, rastreabilidade e bom senso

"Peço a Deus, todo dia, que isso não aconteça em nosso mercado, pois pode acontecer a qualquer um, por desgraça ou simples descuido. Mas sei que se acontecesse conosco, eu saberia exatamente de que fazenda e de que agricultor vem a infecção. E isso me tranquiliza um pouco".
O diretor do mercado rural da Union Square em Nova Iorque comentou assim os eventos europeus relativos à difusão da bactéria Escherichia coli. No velho continente já são mais de 35 mortos e milhões de euros de prejuízos devidos à infecção alimentar cuja origem continua desconhecida.

Esta história de psicose coletiva nos ensina o quão irracional pode ser o medo e como um sistema como o atual, que deveria oferecer total segurança alimentar, revela, ao contrário, toda sua fraqueza. Este medo é, em grande parte, excessivo, acusando setores produtivos inteiros que não têm culpa alguma. Os pepinos, por exemplo, cujo mercado desmoronou na Europa toda após o primeiro alarme que os denunciava como culpados pela infecção sem que tivessem de fato nenhuma responsabilidade. E, se agora que os maiores indiciados parecem ser os brotos de soja alemães de agricultura orgânica, o grande e importante setor da agricultura orgânica se tornasse injustamente acusado?

Por acaso estaríamos pensando em abrir mão dos vegetais sazonais? O bom senso diria que é pura loucura, pois basta lavar bem frutas e verduras antes de comê-las para evitar qualquer risco. Mas o medo, como todos sabem, é contra o bom senso. Embora às vezes produza o efeito paradoxal de restabelecer certa lógica. Hoje, em toda a Europa, quem vende verduras, do grande distribuidor ao pequeno vendedor rural, inclui informações e rótulos, indicando a origem nacional do produto. O fato de terem fechado, de forma apressada e assustadora, as fronteiras a muitas produções agrícolas, produziu o efeito de resgatar o importante papel dos produtos alimentares nacionais e locais. Um retorno às origens que diz muito sobre o sistema atual de produção e distribuição de alimentos em escala gigante, continental ou global que seja.

E é exatamente o que o diretor do mercado rural de Nova Iorque disse: se conhecemos bem a origem dos alimentos, até às mãos do produtor, sabemos reconhecer imediatamente a origem do problema, podendo assim ser solucionado rapidamente. Mas neste turbilhão mundial de produtos alimentares, demoramos um mês só para entender a origem de um lote contaminado e como a infecção foi possível. Mas na incerteza, é quase automático ter medo, um medo sem sentido.

Carlo Petrini
Presidente do Slow Food Internacional


Trecho do artigo publicado no jornal “La Repubblica” - 13 de junho de 2011
do editorial da circular mensal do Slow Food

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