quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Carlo Petrini: Defender a biodiversidade e a vida, combater o desperdício




Não comemos dinheiro. Comemos berinjelas, batatas. 


Carlo Petrini, presidente internacional do movimento Slow Food falou no dia 6 de novembro no evento Mesa Tendências, em São Paulo, sobre a centralidade da comida e a necessidade de reforçar a soberania alimentária, o respeito à biodiversidade, o combate ao desperdício e o legado que se pretende deixar para as próximas gerações. Ainda imbuído das boas vibrações do Terra Madre, do Salone del Gusto e do confgresso do Slow Food ocorridos na Itália no final de outubro, Petrini chamou a atenção de estudantes, chefs e comunicadores para a responsabilidade com o meio ambiente e a relação do ser humano com os alimentos.

Para o mentor do Slow Food, o alimento precisa ser visto de forma holística, ou seja, além de alimentar, existe uma cadeia por trás dele - agricultores, meio ambiente, comunidades etc. - que precisa ser levada em conta pelos que trabalham com comida e por todos que se preocupam com o futuro das novas gerações. Dirigindo-se aos estudantes de gastronomia e a atuais e futuros chefs, Petrini fez o mesmo questionamento apresentado por Alice Waters: o chef é simplesmente um chef ou é um ser de transformação social?

Perder a biodiversidade é como perder o próprio alfabeto
Entre os problemas do mundo atual listados por Petrini estão a perda da biodiversidade, que para ele se equipara a perder o próprio alfabeto. Do inicio de 1900 até os dias atuais foram perdidos 75% da biodiversidade humana. Entre as razões para essa perda de biodiversidade, ele aponta o fato de o alimento ter perdido seu valor, hoje é visto como uma mercadoria, tornou-se um negócio. "80% das sementes estão nas mãos de cinco multinacionais e a humanidade tem só 20%. Não é possivel construir um futuro dessa forma, porque a semente representa a essência da vida, não poder ser propriedade privada" concluiu.

Petrini disse estar muito feliz por um brasileiro, José Graziano [coordenador do programa Fome Zero], estar no comando da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura): "Precisavamos de alguém com a visão dele lá" ressaltou, lembrando que segundo a FAO, na Terra a produção de alimentos é para 12 milhoes de habitantes, mas os habitantes são 7 milhões e 1 milhão entre esses passa fome. Isso signfica, segundo ele, que 40% da produçao vai para o lixo. Para Petrini, o agravante disso tudo, é que em 2050 a Terra terá 9 mihões de habitantes e se não houver uma mudança nesse comportamento, a produção será para 18 milhoes de pessoas e o lixo aumentará na mesma proporção.

Para Petrini não se sai dessa crise planetária se não houver mudança nos paradigmas, ou seja, sair do modelo de produzir sempre e intensamente para jogar cada vez mais alimentos no lixo e adotar o modelo do combate ao desperdício, da defesa da biodiversidade, do respeito aos produtores, do cuidado com a terra.

Descolonizando o pensamento

"Todos os movimentos Slow Food no mundo, junto com outras organizações, precisam construir a arca para salvar o mundo do diluvio, para deixar uma herança para as futuras gerações. E isso pode começar com a criação de uma aliança entre agricultores, chefs, pessoas da comunidade, cidadãos, nos tornando co-produotres, responsáveis pela mudança no sistema alimentar atual que é criminoso.", concluiu Petrini.

Mas como fazer isso? Ele citou a revolução gastronômica que está acontecendo no continente americano, o redescobrimento das origens, e o que chamou de "descolonizar o pensamento", que é o respeito a todas as cozinhas do mundo e que cada uma delas terá seu próprio sentimento, sua própria origem e comunidade. Ele citou o exemplo da África, onde uma existiria uma cozinha que está como que soterrada, mas que quando emergir, vai explodir.

O Brasil segundo ele, também gerará uma nova gastronomia, ao integrar o território local à diversidade do mundo. "Temos que pensar que o umbu e o açaí sao patrimônios da humanidade, que as diferentes farinhas de mandioca são patrimônio inestimavel da humanidade", disse ele, citando outro exemplo, o da produção do queijo sem a pasteurização do leite, que para ele deveria ser orgulho do patrimônio local.

É preciso ser Sancho Pança e Don Quixote ao mesmo tempo: visionarios e pragmáticos. Com essa visao poderão mudar o mundo.

Aos jovens que assistiam à palestra Petrini deixou seu recado: "vocês são a esperança para o futuro e tem nas mãos as condições de produzir um mundo melhor. A comida é energia da vida, Somos vivos porque comemos. Esta é a unica verdade. Alimento é um bem comum. E sem a defesa da biodiversidade e do meio ambiente, não existe o alimento bom, limpo e justo".


Por: Reiko Miura

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, a população de São Paulo é maior do que a do mundo inteiro...!