Não
comemos dinheiro. Comemos berinjelas, batatas.
Carlo Petrini,
presidente internacional do movimento Slow Food falou no dia 6 de
novembro no evento Mesa Tendências, em São Paulo, sobre a centralidade da comida e
a necessidade de reforçar a soberania alimentária, o respeito à
biodiversidade, o combate ao desperdício e o legado que se pretende
deixar para as próximas gerações. Ainda imbuído das boas
vibrações do Terra Madre, do Salone del Gusto e do confgresso do
Slow Food ocorridos na Itália no final de outubro, Petrini chamou a
atenção de estudantes, chefs e comunicadores para a
responsabilidade com o meio ambiente e a relação do ser humano com
os alimentos.
Para o mentor do Slow Food, o alimento precisa ser visto de
forma holística, ou seja, além de alimentar, existe uma cadeia por
trás dele - agricultores, meio ambiente, comunidades etc. - que
precisa ser levada em conta pelos que trabalham com comida e por
todos que se preocupam com o futuro das novas gerações.
Dirigindo-se aos estudantes de gastronomia e a atuais e futuros
chefs, Petrini fez o mesmo questionamento apresentado por Alice
Waters: o chef é simplesmente um chef ou é um ser de transformação
social?
Perder a biodiversidade é como perder o próprio alfabeto
Entre os problemas do
mundo atual listados por Petrini estão a perda da biodiversidade,
que para ele se equipara a perder o próprio alfabeto. Do inicio de
1900 até os dias atuais foram perdidos 75% da biodiversidade humana.
Entre as razões para essa perda de biodiversidade, ele aponta o
fato de o alimento ter perdido seu valor, hoje é visto como uma
mercadoria, tornou-se um negócio. "80% das sementes estão nas
mãos de cinco multinacionais e a humanidade tem só 20%. Não é
possivel construir um futuro dessa forma, porque a semente representa
a essência da vida, não poder ser propriedade privada"
concluiu.
Petrini disse estar
muito feliz por um brasileiro, José Graziano [coordenador do
programa Fome Zero], estar no comando da FAO (Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura): "Precisavamos
de alguém com a visão dele lá" ressaltou, lembrando que
segundo a FAO, na Terra a produção de alimentos é para 12 milhoes
de habitantes, mas os habitantes são 7 milhões e 1 milhão entre
esses passa fome. Isso signfica, segundo ele, que 40% da produçao
vai para o lixo. Para Petrini, o agravante disso tudo, é que em
2050 a Terra terá 9 mihões de habitantes e se não houver uma
mudança nesse comportamento, a produção será para 18 milhoes de
pessoas e o lixo aumentará na mesma proporção.
Para Petrini não se
sai dessa crise planetária se não houver mudança nos paradigmas,
ou seja, sair do modelo de produzir sempre e intensamente para jogar
cada vez mais alimentos no lixo e adotar o modelo do combate ao
desperdício, da defesa da biodiversidade, do respeito aos
produtores, do cuidado com a terra.
Descolonizando o
pensamento
"Todos os
movimentos Slow Food no mundo, junto com outras organizações,
precisam construir a arca para salvar o mundo do diluvio, para deixar
uma herança para as futuras gerações. E isso pode começar com a
criação de uma aliança entre agricultores, chefs, pessoas da
comunidade, cidadãos, nos tornando co-produotres, responsáveis pela
mudança no sistema alimentar atual que é criminoso.", concluiu
Petrini.
Mas como fazer isso?
Ele citou a revolução gastronômica que está acontecendo no
continente americano, o redescobrimento das origens, e o que chamou
de "descolonizar o pensamento", que é o respeito a todas
as cozinhas do mundo e que cada uma delas terá seu próprio
sentimento, sua própria origem e comunidade. Ele citou o exemplo da
África, onde uma existiria uma cozinha que está como que soterrada,
mas que quando emergir, vai explodir.
O Brasil segundo ele,
também gerará uma nova gastronomia, ao integrar o território local
à diversidade do mundo. "Temos que pensar que o umbu e o açaí
sao patrimônios da humanidade, que as diferentes farinhas de
mandioca são patrimônio inestimavel da humanidade", disse ele,
citando outro exemplo, o da produção do queijo sem a pasteurização
do leite, que para ele deveria ser orgulho do patrimônio local.
É preciso ser
Sancho Pança e Don Quixote ao mesmo tempo: visionarios e
pragmáticos. Com essa visao poderão mudar o mundo.
Aos jovens que
assistiam à palestra Petrini deixou seu recado: "vocês são a
esperança para o futuro e tem nas mãos as condições de produzir
um mundo melhor. A comida é energia da vida, Somos vivos porque
comemos. Esta é a unica verdade. Alimento é um bem comum. E sem
a defesa da biodiversidade e do meio ambiente, não existe o alimento
bom, limpo e justo".
Por: Reiko Miura
Por: Reiko Miura
Um comentário:
Nossa, a população de São Paulo é maior do que a do mundo inteiro...!
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